25.5.08

| Reflexões "Maria cheia de graça"- Parte 3


No filme “Maria cheia de graça”, a personagem principal, de 17 anos, trabalha numa plantação de flores onde exerce uma tarefa repetitiva. Maria mostra-se entediada e sem esperança. Quando descobre que está grávida e sai do trabalho por divergências com seu chefe, se vê sem saída, ainda mais com a difícil situação de um país como a Colômbia. Canclini, em “Ser diferente é desconectar-se?”, diz que é a sociedade que trata de saber como começa o futuro da juventude.
“Ao perguntar o que significa, hoje, ser jovem, verificamos que a sociedade que responde ser o futuro incerto ou não saber como construí-lo está dizendo aos jovens não apenas que há pouco lugar para eles. Está respondendo a si mesma que tem pouca capacidade, por assim dizer, de rejuvenescer-se, de escutar os que poderiam mudá-la.”
No caso, mostra-se um país com sérios problemas infra-estruturais, sobretudo na questão do tráfico de drogas, abordado pelo filme posteriormente. Ainda no aspecto da juventude, o autor argentino fala sobre os riscos de exclusão nos mercados de trabalho, que aumentam nos países periféricos; e com a informalidade do trabalho, cria instabilidade no salário, implica privação de recursos de segurança social, saúde e integração, criando “a opção furiosa pelo risco, a auto-marginalização ou o dane-se.”
No desenrolar do filme, Maria, sem opção de emprego, aceita o convite de um amigo para alimentar o tráfico de drogas nos EUA, servindo de “mula” (pessoas que engolem entorpecentes para que consigam entrar em outros países sem ser pegas). A jovem sonha com tal país. No texto “Globalização, democracia e terrorismo”, Eric Hobsbawm trata desse tema. Segundo ele, 2,5 bilhões de pessoas foram transportadas anualmente pelas linhas aéreas de todo o mundo no final do século passado. Com a globalização, essa mobilidade dos seres humanos levou a países como EUA, Canadá e Austrália 22 milhões de imigrantes provenientes de países pobres entre 1974 à 1998.
Chegando em terras americanas, brota a desilusão. Algo que também se encontra presente no mesmo texto é a questão sobre xenofobia. “..., a nova globalização de movimentos reforçou a longa tradição popular de hostilidade econômica à imigração em massa e de resistência do que se vê como ameaças à identidade cultural coletiva.” Isso é recorrente logo quando a menina põe os pés fora de seu país, quase sendo pega por policiais norte-americanos.
Desde o fim da Guerra Fria, com os EUA emergindo como grande potência mundial e ganhando a rotulação de possuir uma destacada qualidade de vida de sua sociedade, enfatiza a imagem do dinheiro e a facilidade no acesso de novas tecnologias, sobretudo no campo comunicacional. Milton Santos, em “Por uma outra globalização”, faz severas críticas ao conceito de globalização hoje existente. Ela fala sobre a emergência de uma dupla tirania, a do dinheiro e a da informação, intimamente relacionadas. “Ambas, juntas, fornecem as bases do sistema ideológico que legitima as ações mais características da época e, ao mesmo tempo, buscam conformar segundo um novo ethos as relações sociais e interpessoais, influenciando o caráter das pessoas.”
Ao final, já conseguindo se desfazer das drogas e livre para voltar a seu país, Maria decide ficar em terras americanas sonhando com uma solução para sua vida econômica, e não esquecendo a sua cultura, sua pátria e sua família. Renato Ortiz, em “Um outro território”, comenta que o mundo seria formado por um conjunto de civilizações “inter”, atuando entre si. “..., a civilização ocidental, uma entre tantas outras, teria um papel de destaque, impondo seus padrões de dominação junto a outros núcleos civilizatórios. Portanto, a argumentação preserva a independência das culturas. Cada uma delas giraria em torno de seu próprio eixo, difundindo seus traços para fora de seu território de origem.”
Observando todos os aspectos mencionados, podemos constatar que tanto “Maria cheia de graça” quanto o documentário “The Corporation” mostram a frieza, de uma maneira maquiavélica, de como atuam tais empresas e máfias em favor único e exclusivo do lucro (capitalismo), esmagando avassaladoramente muitos indivíduos.

Por Álvaro Lutterback e Felipe Escarlate

22.5.08

| Reflexões "Maria cheia de graça"- Parte 2


“Maria Cheia de Graça” (Marie Full Of Grace, 2005) era um tímido filme latino-americano (produzido em grande parte na Colômbia) em janeiro de 2005. Foi quando Catalina Sandino Moreno, atriz protagonista da produção, foi indicada ao Oscar por seu papel. Méritos interpretativos à parte, o filme exemplifica de forma eficiente algumas conseqüências do processo de globalização.
O primeiro ponto a ser destacado é a própria condição da personagem no filme. Maria é uma jovem colombiana que trabalha em uma empresa local e, com seu parco salário, tem que sustentar a mãe e a irmã desempregadas. Segundo Canclini, em seu texto “Ser diferente é desconectar-se?”, 39% dos jovens mexicanos não têm trabalho. Se considerarmos que a economia mexicana é uma das mais importantes e fortes da América Latina, pode-se deduzir que na Colômbia (e na América Latina de uma forma geral) o quadro tende a ser ainda pior.
Tal situação faz com que regiões do mundo como a Europa e os Estados Unidos se projetem como “terras de oportunidades” para milhões de imigrantes. Eric Hobsbawn, em seu texto “Globalização, democracia e terrorismo”, registra que entre os anos de 1998 e 2001 entraram nos Estados Unidos, Canadá e Austrália um total de 3,6 milhões de imigrantes. Dois efeitos podem ser deduzidos daí: a fuga de cérebros e mão-de-obra de países marginalizados no processo de globalização e o crescimento da xenofobia nos pólos receptores de imigrantes.
Esse último aspecto pode ser observado no filme através da própria chegada de Maria no aeroporto de Nova Iorque. Em função de seu biótipo, ela é imediatamente encarada pelo policial da alfândega como imigrante que rouba mão-de-obra local ou então trabalha como transportadora de drogas entre dois países. A (falta de) receptividade também pode ser vista na reação do frentista às perguntas de Maria. O trabalho como “mula” é outra conseqüência da globalização mostrada no filme: sem perspectivas de emprego local e atraída pelos altos ganhos, Maria acaba entrando para o mundo do crime em seu favor.
De forma geral, pode-se ampliar os aspectos e situações vividas pela personagem a uma análise mais geral do processo de globalização e seus efeitos. Hobsbawn afirma que um dos elementos desse processo é o fim da União Soviética e o conseqüente fim da Guerra Fria, que teve como uma das conseqüências o aumento exponencial do número de Estados soberanos com a fragmentação de antigos conglomerados políticos e grandes países. Muitos destes pequenos Estados, muito instáveis, acabam indo à falência e seus governos perdem poder.
Outros elementos que marcam o início do processo de globalização e as suas conseqüências são as transformações no modelo capitalista, que passa a ser a partir deste momento neoliberal; bem como o crescente aumento dos fluxos de migração entre os países e as grandes transfomações ocorridas nos campos dos meios de transporte e comunicações. O primeiro conferiu às pessoas uma mobilidade e agilidade nunca antes vista na história; e o segundo revolucionou o contato entre diferentes povos e culturas com a interconexão via eletrônica de pessoas ao redor do globo terrestre.
Derivam desses elementos as privatizações ocorridas no mundo inteiro e a instalação de empresas multinacionais em diversos países. Tais aspectos, aliados ao enfraquecimento do sindicalismo, criam um quadro de exploração de mão-de-obra barata em países pobres, aliada a uma remessa de lucros aos países ricos industrializados.
Como resultado final de todo o processo, vobserva-se a disparidade crescente entre países ricos e pobres, bem como a falta de perspectivas para milhões de jovens, dos quais exige-se crescente qualificação acadêmica e profissional. Também percebe-se, como aponta Canclini, a formação de “guetos”, “tribos”, “ilhas culturais”; bem como uma certa desmobilização juvenil em relação ao futuro.
Enfim, a globalização sob a égide do capital, da forma como vem ocorrendo, não oferece um panorama favorável do ponto de vista econômico e social para grande parte da população mundial e, especificamente, da América Latina – contexto tratado pelo filme aqui citado. Observa-se que o processo previlegiou apenas uma parte dos países do planeta, marginalizando o restante a uma realidade bem diferente da desejada ou apresentada nos países “conectados”.

Por Fabricio Beserra e Felipe Haurelhuk

20.5.08

| Reflexões "Maria cheia de graça"- Parte 1

A partir de hoje publicaremos os textos feitos na 1ª avaliação da turma de Globalização. Reunindo os aspectos importantes do filme, juntamente com os textos desenvolvidos em sala, vale conferir o que foi construído por todos.


O filme “Maria cheia de graça” relata a situação de Maria Alvarez, uma jovem colombiana que trabalha retirando espinhos de rosas. Maria fica desempregada, descobre que está grávida e, pela situação em que se encontra, acaba aceitando a proposta de ir aos Estados Unidos como mula, levando drogas, para conseguir dinheiro e ajudar sua família, que está passando por dificuldades.
Através do filme, podemos analisar diversas características do processo de globalização. Esta é retratada no filme como uma perversidade, onde ocorrem a exclusão dos pobres, o aumento da desigualdade entre os indivíduos, o individualismo arrebatador e o abandono da noção e do fato de solidariedade, além de mostrar o dinheiro como motor da vida social e a exploração da mão – de – obra barata em um país periférico (Colômbia).
A situação de Maria antes do desemprego não era boa. Ela ganhava muito pouco, ou seja, era mão – de – obra barata e seu chefe não se importava nem um pouco com as condições de trabalho. Essas condições eram horríveis, mas Maria não tinha escolha, precisava trabalhar para ganhar algum dinheiro e ajudar a família. Até que ela se demitiu por passar mal e não poder ir ao banheiro. Ficou sem emprego, grávida e sem saber o que fazer. Recebeu uma proposta de viajar levando drogas para os Estados Unidos e ganhar muito dinheiro. Aí, podemos ver a questão do dinheiro como motor da vida social, da busca desenfreada pelo dinheiro. Só assim Maria ganharia o dinheiro que precisava e, ao mesmo tempo, teria acesso a um país de primeiro mundo; conheceria outras formas de cultura e condições “melhores” de vida, já que o preço da viagem era muito caro para o tipo de via que ela levava na Colômbia.
Ainda sobre a questão do dinheiro, e colocando junto a questão das desigualdades, podemos perceber que os latino americanos se encontram na base da escala salarial. Os imigrantes da América Latina encontram péssimas condições de trabalho nos Estados Unidos, na maioria das vezes. Há a redução do valor do trabalho. Os jovens são os que mais sofrem com isso, até mesmo em seus próprios países.
Relacionando o filme com a questão da juventude, vemos que os jovens vivem no instante, no agora. Como exemplo, temos a situação de Maria, que está grávida do ex-namorado e desempregada. Provavelmente, ao transar com o então namorado, ela não pensou muito nas possíveis conseqüências, apenas no momento, no presente. Muitos dos jovens dos países subdesenvolvidos têm dificuldades de acesso à informação, principalmente através da internet. “A enorme maioria dos jovens, como o resto da população, ficam limitados à televisão gratuita nacional e a redes informais de bens e serviços” (CANCLINI, 2005). Devido ao crescimento da dívida externa, que reduz o crescimento econômico, a corrupção e a informalidade dificultam o acesso dos trabalhadores aos seus direitos como trabalhadores e consumidores. Como o acesso à informação não acontece com a mesma intensidade para todos, os excluídos do processo tornam-se submissos às elites, principalmente as empresariais. Podemos ver, então, que os jovens passam por diversas dificuldades no que diz respeito à obtenção de um emprego. Exigem-se mais qualificações e garantem-se cada vez menos direitos. O emprego torna-se instável e ser trabalhador torna-se sinônimo de ser vulnerável. Não se tem garantia de nada e os riscos de exclusão do mercado de trabalho e da marginalização aumentam nos países periféricos, contribuindo para o aumento da informalidade trabalhista.
Outro fator que podemos notar no filme é a busca por valores menos materialistas, privilegiando a individualidade e a qualidade de vida. A cena em que isso se mostra claramente é a final, quando Maria decide ficar nos Estados Unidos em busca de melhores condições de vida para o filho que vai nascer; e deixa a amiga voltar para a Colômbia sozinha. Concluindo, Maria prefere viver sozinha em um outro país, em uma cultura totalmente diferente da sua, para dar uma vida digna para o filho, por mais que consiga um subemprego.
Enfim, o filme mostra que, no mundo da globalização, o espaço geográfico ganha novas dimensões. Os atores hegemônicos têm as melhores oportunidades, enquanto o resto fica para os excluídos.

Por Anna Caroline Pessanha e Roberta Lacerda

7.5.08

|Maria cheia de graça

Filme colombiano, lançado em 2005, dirigido por Joshua Marston, retrata um outro lado da globalização normalmente esquecido: nem todos têm acesso as maravilhas tecnológicas e as promessas de maior liberdade de escolha por muitos propaladas. Uma clara geometria do poder permanece e, na verdade, se aprofunda. A migração em busca de melhoria de vida, as condições do mundo do trabalho que se fragilizam, a falta de alternativas para muitos jovens, a globalização do tráfico de drogas, o contato com uma sociedade e cultura que não é a sua... enfim essas e várias questões são trazidas pelo filme.
http://www.mariafullofgrace.com/ Site oficial do filme.

4.5.08

| comunicação e música



Dia 06 de maio de 2008, às 12h30min, Simone Pereira de Sá vai participar do Café Intercom, na Biblioteca Nacional, falando de uma de suas especialidades: Música.
Com ela estará Eduardo Granja Coutinho, da UFRJ.
A mediação será feita por Raquel Paiva e Ana Paula Goulart.

Boa pedida para todos.



| Os Ingleses

Raymond Williams



Raymond Williams foi um acadêmico, crítico e novelista galês. Seus escritos em política, cultura, literatura e cultura de massas refletiram seu pensamento marxista. Foi uma figura influente dentro de movimentos radicais de esquerda e na teoria cultural em geral. Mais de 750 mil cópias de seus livros foram vendidos apenas no Reino Unido, e há muitas traduções de suas diversas obras espalhadas pelo mundo. Nascido em Llanfihangel Crucorney, Gales, filho de um trabalhador ferroviário, chegou ao Trinity College, Cambridge, mas sua educação foi interrompida por seu serviço de guerra. Posteriormente, recebeu seu mestrado de Trinity College em 1946 e então ensinou por muitos anos no programa de educação para adultos. Ficou famoso com Cultura e Sociedade, publicado em 1958, sendo um sucesso imediato. Tal sucesso foi seguido em 1961 por A Longa Revolução. Com o sucesso de seus livros, ele foi convidado a retornar a Cambridge em 1961, tornando-se então professor de dramaturgia (1974 - 1983). Foi indicado como Professor visitante de Ciências Políticas em Stanford University em 1973. Socialista engajado, esteve grandemente interessado nas relações entre linguagem, literatura e sociedade, publicando muitos livros, ensaios e artigos sobre estes e outros assuntos. Ele se aposentou de Cambridge em 1983 e passou seus últimos anos em Saffron Walden. Lá, escreveu Loyalties (Lealdades), um romance sobre um grupo fictício de radicais ricos atraídos pelo comunismo dos anos 30. Também trabalhava em uma coletânea de contos sobre as pessoas que viveram ou podiam ter vivido nas Montanhas Negras, a parte da escócia de onde ele veio, chamada Povo das Montanhas Negras. Ela se iniciava na velha Idade da Pedra e se pretendia chegar aos tempos modernos, sempre focado nas pessoas comuns. Faleceu em 1988.

|O conceito de cultura em Raymond Williams e Edward P. Thompson, por Raquel Sousa Lima

|Williams por Rogério Santos, jornalista português

|Resenha feita por Marcelo Ridenti, professor de sociologia da UNICAMP, do livro "Para ler Raymond Williams", de Maria Elisa Cevasco, professora de Estudos Culturais e Literaturas em Língua Inglesa na USP

Robert Owen


Industrial e reformador galês (14/5/1771-17/11/1858). Um dos idealizadores do socialismo utópico no século XIX com a proposta de cooperativas. Nasce em Newtown, no País de Gales. Começa a trabalhar como ajudante numa indústria têxtil que emprega 500 operários. Passa a gerente em 1791 e, em 1799, compra uma empresa com dois sócios em Lanarkshire, na Escócia. Convencido de que a mão-de-obra pode ser mais bem aproveitada em uma sociedade cooperativa, propõe, em 1819, a criação de associações nas cidades com até mil pessoas, para ocupar os desempregados. Cria duas cooperativas desse tipo, uma no Reino Unido, em 1839, e outra nos Estados Unidos (EUA), em 1825. As tentativas - em New Harmony, Indiana (1825-1827), e em Queenwood, Hampshire, na Inglaterra (1839-1845) - fracassam em poucos anos, devido a brigas entre os participantes. Owen passa o resto da vida divulgando suas idéias sobre educação, religião e família. Entre os livros que escreve estão Nova Visão da Sociedade (1813-1914) e Relato do Condado de Lanark (1821), sobre a experiência da cooperativa de empregados. Morre em sua cidade natal.

|Socialismo Utópico na Wikipédia



Coleridge


Samuel Taylor Coleridge (Ottery St. Mary, Inglaterra, 21 de Outubro de 1772 - 25 de Julho de 1834), comumente designado por S.T. Coleridge, foi um poeta, crítico e ensaista inglês. Considerado, ao lado de seu colega William Wordsworth, um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra.

|Um pouco mais de Coleridge



Matthew Arnold


Escritor inglês, nascido em 1822 e falecido em 1888, educado em Oxford, cedo manifestou vocação para a poesia. O seu primeiro volume de poemas The Strayed Reveller, and Other Poems foi publicado em 1849. Abandona posteriormente a atividade poética, dedicando-se a aprofundar os seus estudos de pedagogia e as suas idéias críticas e filosóficas. Na sua qualidade de crítico exercerá uma influência determinante em autores, como Max Weber e T. S. Eliot, entre outros. Uma das conhecidas frases dele é: "A cultura é a busca da nossa perfeição total mediante a tentativa de conhecer o melhor possível o que foi dito ou pensado no mundo, em todas as questões que nos dizem respeito."



T.S. Eliot


Thomas Stearns Eliot, poeta, dramaturgo e ensaísta inglês de origem americana. Sua obra representa uma profunda renovação na literatura do século XX. Prêmio Nobel de 1948.

|Biografia completa

|Alguns poemas de T.S.Eliot