O filme “Maria cheia de graça” relata a situação de Maria Alvarez, uma jovem colombiana que trabalha retirando espinhos de rosas. Maria fica desempregada, descobre que está grávida e, pela situação em que se encontra, acaba aceitando a proposta de ir aos Estados Unidos como mula, levando drogas, para conseguir dinheiro e ajudar sua família, que está passando por dificuldades.
Através do filme, podemos analisar diversas características do processo de globalização. Esta é retratada no filme como uma perversidade, onde ocorrem a exclusão dos pobres, o aumento da desigualdade entre os indivíduos, o individualismo arrebatador e o abandono da noção e do fato de solidariedade, além de mostrar o dinheiro como motor da vida social e a exploração da mão – de – obra barata em um país periférico (Colômbia).
A situação de Maria antes do desemprego não era boa. Ela ganhava muito pouco, ou seja, era mão – de – obra barata e seu chefe não se importava nem um pouco com as condições de trabalho. Essas condições eram horríveis, mas Maria não tinha escolha, precisava trabalhar para ganhar algum dinheiro e ajudar a família. Até que ela se demitiu por passar mal e não poder ir ao banheiro. Ficou sem emprego, grávida e sem saber o que fazer. Recebeu uma proposta de viajar levando drogas para os Estados Unidos e ganhar muito dinheiro. Aí, podemos ver a questão do dinheiro como motor da vida social, da busca desenfreada pelo dinheiro. Só assim Maria ganharia o dinheiro que precisava e, ao mesmo tempo, teria acesso a um país de primeiro mundo; conheceria outras formas de cultura e condições “melhores” de vida, já que o preço da viagem era muito caro para o tipo de via que ela levava na Colômbia.
Ainda sobre a questão do dinheiro, e colocando junto a questão das desigualdades, podemos perceber que os latino americanos se encontram na base da escala salarial. Os imigrantes da América Latina encontram péssimas condições de trabalho nos Estados Unidos, na maioria das vezes. Há a redução do valor do trabalho. Os jovens são os que mais sofrem com isso, até mesmo em seus próprios países.
Relacionando o filme com a questão da juventude, vemos que os jovens vivem no instante, no agora. Como exemplo, temos a situação de Maria, que está grávida do ex-namorado e desempregada. Provavelmente, ao transar com o então namorado, ela não pensou muito nas possíveis conseqüências, apenas no momento, no presente. Muitos dos jovens dos países subdesenvolvidos têm dificuldades de acesso à informação, principalmente através da internet. “A enorme maioria dos jovens, como o resto da população, ficam limitados à televisão gratuita nacional e a redes informais de bens e serviços” (CANCLINI, 2005). Devido ao crescimento da dívida externa, que reduz o crescimento econômico, a corrupção e a informalidade dificultam o acesso dos trabalhadores aos seus direitos como trabalhadores e consumidores. Como o acesso à informação não acontece com a mesma intensidade para todos, os excluídos do processo tornam-se submissos às elites, principalmente as empresariais. Podemos ver, então, que os jovens passam por diversas dificuldades no que diz respeito à obtenção de um emprego. Exigem-se mais qualificações e garantem-se cada vez menos direitos. O emprego torna-se instável e ser trabalhador torna-se sinônimo de ser vulnerável. Não se tem garantia de nada e os riscos de exclusão do mercado de trabalho e da marginalização aumentam nos países periféricos, contribuindo para o aumento da informalidade trabalhista.
Outro fator que podemos notar no filme é a busca por valores menos materialistas, privilegiando a individualidade e a qualidade de vida. A cena em que isso se mostra claramente é a final, quando Maria decide ficar nos Estados Unidos em busca de melhores condições de vida para o filho que vai nascer; e deixa a amiga voltar para a Colômbia sozinha. Concluindo, Maria prefere viver sozinha em um outro país, em uma cultura totalmente diferente da sua, para dar uma vida digna para o filho, por mais que consiga um subemprego.
Enfim, o filme mostra que, no mundo da globalização, o espaço geográfico ganha novas dimensões. Os atores hegemônicos têm as melhores oportunidades, enquanto o resto fica para os excluídos.
Por Anna Caroline Pessanha e Roberta Lacerda
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