1.9.10

O coração não envelhece




Há quase 1 ano, perdemos uma pessoa fundamental para os estudos de nossa disciplina e para o desenvolvimento dos estudos antropológicos em geral. Perdemos um dos maiores pensadores do século XX, o Pai da Antropologia Estruturalista.

Obviamente, estou falando de Claude Lévi-Strauss, um admirável filósofo e etnólogo que destacou a Diversidade das Culturas; um belga que se aventurou na Amazônia; combateu o etnocentrismo e a idéia de progresso contínuo, linear, evolucionista; enfim, alguém que fomentou e estimulou o relativismo cultural e nos faz, até hoje, refletir sobre Cultura.

Lévi-Strauss cursou Leis e Filosofia, mas descobriu sua verdadeira paixão na Etnologia e sua vocação de antropólogo, no Brasil. Aqui, ele lecionou na Universidade de São Palo (USP) e fez várias expedições e viagens de estudos cujos registros culminaram em uma de suas principais obras: “Tristes Trópicos”. (Leia entrevista aqui )

O intelectual jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única. Sempre enfatizou que a mente selvagem é igual à civilizada. Sua crença de que as características humanas são as mesmas em toda parte surgiu nessas incontáveis viagens que fez ao Brasil e nas visitas a tribos indígenas das Américas do Sul e do Norte. O antropólogo passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos e as organizações sociais dessas tribos utilizando o método do Estruturalismo.

"Estruturalismo", diz Lévi-Strauss, "é a procura por harmonias inovadoras". Tal corrente de pensamento se lançava sobre o trabalho intelectual, isto é, olhar para os povos indígenas e buscar uma racionalidade e uma reflexão propriamente nativa.

Segundo teóricos e professores da atualidade, uma das grandes contribuições de Lévi-Strauss foi partir do empirismo para dialogar e colocar a Antropologia em pé de igualdade com outras ciências, assim como abrir caminhos para pensar a filosofia indígena, valorizar o lado intelectual dos povos estudados, e não ficar na privilegiada posição de “nós (ocidentais) temos uma grande teoria e eles, não.” Lévi-Strauss não via o ser humano como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta, como diz em entrevista o ano de 2005. (Assista à breve entrevista aqui )


Por fim, devido à sua importância intelectual para os estudos Antropológicos, Levi-Strauss, além de ser membro da Academia de Ciências Francesa (1973), integrou também muitas academias científicas, em especial européias e norte-americanas. Também é doutor honoris causa das universidades de Bruxelas, Oxford, Chicago, Stirling, Upsala, Montréal, México, Québec, Zaïre, Visva Bharati, Yale, Harvard, Johns Hopkins e Columbia, entre outras

De fato, lamentamos a morte desse ícone intelectual. No entanto, exaltamos os seus bem vividos 100 anos de vida.

* Lévi-Strauss no Brasil em 1934

Quais propostas ou contribuições intelectuais do Lévi-Strauss te chamam mais atenção?