19.10.07

| cai no areal na hora adversa
| É PROIBIDO PROIBIR




| “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder. Vocês têm coragem de aplaudir esse ano uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir o ano passado. São (sic) a mesma juventude que vão sempre, sempre, sempre matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem. Vocês não estão entendendo nada, nada, nada. Absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Hoje eu vim dizer aqui que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival não com medo que o Sr. Chico de Assis pediu, mas com coragem... Quem teve esta coragem de assumir essa estrutura e fazê-la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém. Foi Gilberto Gil e fui eu. Vocês estão por fora. Vocês não vão vencer. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabe a quem? - Tem som no microfone? - Vocês são iguais sabe a quem? Aqueles que foram no Roda-viva e espancaram os atores. Vocês não diferem em nada deles. Vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker, viva Cacilda Becker! Estou comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte, vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de Charleston. Sabem o que foi? Foi a ‘Gabriela’ do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar, por ser americana. Mas eu e o Gil já abrimos esse caminho. O que vocês querem? Eu vim aqui pra acabar com isso. Eu quero dizer ao júri me desclassifiquem, eu não tenho nada a ver com isso, nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está aqui comigo para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com isso tudo de uma vez. Nós só entramos em festival pra isso, não é ... Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja o festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim, entendeu. Mas eu tenho que dizer isso, baby. Sabe como é. Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês... Se vocês forem em política como forem em estética, estamos feitos. Me desclassifiquem junto com o Gil. Junto com ele, tá entendendo. E quanto a vocês... O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto. (Volta a cantar:)
| “Me dê um beijo meu amor / Eles estão nos esperando / Os automóveis ardem em chama / (Berrando) Derrubar as prateleiras, as estantes, as estátuas, as vidraças, livros, sim. / E eu digo sim. E eu digo não ao não. E eu digo / (Gritando) É proibido, proibir (fora de tom, sem melodia).
Como é júri não acertaram qualificar a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, heim! É assim que eu quero ver. Chega!”*


| discurso feito por Caetano durante eliminatórias do III Festival Internacional da Canção Popular, em 15 de setembro de 1968 no TUCA, Teatro da Universidade Católica, em São Paulo.
| *trancrição feita por Héber Fonseca, 1993, p.91.





| caetano acompanhado pelo guitarrista lenny gordin (seu principal guitarrista em muitas das músicas gravadas nos anos 60 e 70) canta 'é proibido proibir' numa ediçao especial, em homenagem aos 40 anos da 'tropicália, do programa 'circo do edgar' do canal gnt.



A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
Estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta há o porteiro, sim
E eu digo não
E eu digo não ao não
E eu digo é proibido proibir

É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir

Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças, livros, sim
E eu digo sim
E eu digo não
E eu digo é proibido proibir

É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir


Cai no areal na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus

Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?

O que eu me sonhei que eterno dura
Esse que regressare.



| letra de "É proibido proibir"
| o trecho em itálico corresponde a poema de Fernando Pessoa

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