3.10.07

| chico

| "Chico Buarque sempre manteve uma atitude comportamental distante do escândalo. Nem o apelo visual nem o movimento foram marcas da presença de Chico no palco. Sua insatisfação e rebeldia, se não apareciam na maneira de vestir-se e de apresentar-se, apareciam nas suas composições musicais e nas suas produções teatrais e literárias.
| Compor usando a linguagem da fresta, a linguagem do metafórico, do elíptico: Chico foi um mestre nessa forma de expressão. Se no princípio suas composições eram mais líricas, marcadas pelo tom orfêico, com as transformações funestas por que o Brasil foi passando a partir de 64, Davi toma o lugar de Orfeu: o lirismo dá lugar ao protesto, o carnaval dá lugar ao triste cotidiano de uma intelectualidade obrigada a calar-se, de uma população obstruída de pensar a própria realidade em que vivia, pois estava cerceada a livre expressão.
| Chico transformou-se em porta-voz de uma intelectualidade calada à força. Seus discos eram exaustivamente ouvidos e analisados. Suas composições eram dissecadas por sociólogos, antropólogos, jornalistas, universitários, sedentos por encontrar nelas as palavras, as idéias que lhes eram interditadas.
| A canção popular passou a ser um dos poucos canais de manifestação. Não que ela também não tenha sofrido a repressão, o próprio Chico Buarque é testemunha de como a censura não deixava ninguém se expressar livremente: teve algumas de suas composições proibidas, viu-se obrigado a alterar versos de outras para que fossem liberadas, sem falar de sua peça de teatro Calabar, elogio da traição proibida dias antes de sua estréia, ou Roda-viva, cujos artistas foram espancados no Rio e em Porto Alegre.
| Apesar da perseguição, a criatividade buarqueana foi capaz de enganar muitas vezes a censura e ser a voz de quem estava calado à força. Difícil fazer desaparecer ou calar alguém que estava na “boca do povo”, nas rodas de samba, nas conversas de botequins, ou era tema de discussões entre estudantes universitários. Chico teve uma trajetória de luta e confrontamento com a ditadura militar, liderando ou participando de movimentos que buscavam a derrubada de uma famigerada casta imbuída de poderes de vida e morte sobre as pessoas. (...)"
| trecho inicial do capítulo "AGORA FALANDO SÉRIO: CHICO BUARQUE" da tese de mestrado de Marildo José Nercolini, " Artista-intelectual: a voz possível em uma sociedade que foi calada; uma análise sociológica da obra de Chico Buarque e Caetano Veloso no Brasil dos anos 60 - Porto Alegre: UFRGS. 1997. p.82-146"
| clique e acesse a íntegra desse capítulo




| falando em chico, anos 60, mpb... nosso aluno, Petra, encontrou no youtube esse vídeo do boicote à apresentação de "Cálice" (este vídeo tbm traz outras imagens do período em sua edição). Boicotada pela censura do regime militar à época no show Phono 73, que a gravadora Phonogram (ex Philips, e depois Polygram) organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973, teve os microfones desligados durante sua apresentação.
| clique e acesse uma nota sobre este fato por Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello
| clique e acesse uma nota por Humberto Werneck sobre o mesmo boicote

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